Ascensão da Postura ANTIVACINA. Dr. Julio Pereira – Neurocirurgião São Paulo – Neurocirurgião Beneficência Portuguesa.

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A ascensão da postura antivacina não representa apenas um debate ideológico, mas a reintrodução deliberada de patógenos neurotrópicos de alta letalidade no ecossistema clínico. A quebra da imunidade de rebanho — que exige coberturas vacinais superiores a 90-95% para doenças como o sarampo e poliomielite — expõe o Sistema Nervoso Central (SNC) a riscos devastadores que considerávamos controlados. Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde indicam uma queda preocupante na cobertura de imunizantes essenciais, com índices em certas regiões brasileiras oscilando abaixo de 70%, criando “bolsões de suscetibilidade” onde vírus e bactérias podem circular livremente, elevando estatisticamente a probabilidade de epidemias de meningites e encefalites.

O impacto direto dessa negligência imunológica é visível na incidência de complicações neurológicas graves e irreversíveis. Retomando o exemplo do Sarampo, doença frequentemente subestimada pelo público leigo, a não vacinação aumenta o risco da Panencefalite Esclerosante Subaguda (PEES), uma doença neurodegenerativa fatal e progressiva que ocorre anos após a infecção primária, resultante da persistência viral no tecido cerebral. Além disso, a redução na vacinação contra Haemophilus influenzae tipo b e meningococo recoloca a meningite bacteriana como uma ameaça pediátrica iminente; estatísticas apontam que, mesmo com tratamento antibiótico agressivo e intervenção neurocirúrgica para drenagem de empiemas, cerca de 10% a 20% dos sobreviventes desenvolvem sequelas permanentes, como surdez neurossensorial, epilepsia refratária e déficits cognitivos profundos.

Ainda mais alarmante para a comunidade é o espectro do retorno da Poliomielite. A hesitação vacinal flerta perigosamente com a reemergência de casos de paralisia flácida aguda, decorrente da destruição seletiva dos motoneurônios no corno anterior da medula espinhal pelo poliovírus. A estatística é implacável: aproximadamente 1 em cada 200 infecções resulta em paralisia irreversível e, entre esses, 5% a 10% evoluem para óbito por paralisia da musculatura respiratória. A perda da certificação de eliminação da pólio em diversas nações é um indicativo gravíssimo de que estamos falhando na proteção da integridade medular de uma nova geração devido à desinformação.

Por fim, é mandatório desconstruir a falácia da “imunidade natural” sob a ótica da neuroimunologia. A infecção selvagem por vírus como Influenza ou SARS-CoV-2 carrega um risco relativo exponencialmente maior de complicações como Acidente Vascular Encefálico (AVE), Encefalomielite Disseminada Aguda (ADEM) e Síndrome de Guillain-Barré do que qualquer evento adverso vacinal documentado. Estudos de coorte robustos demonstram que a vacinação atua como um fator de proteção vascular e neural; portanto, a recusa vacinal é, tecnicamente, uma decisão de expor o parênquima cerebral a um “custo biológico” inaceitável, trocando a segurança profilática pela aleatoriedade de sequelas neurológicas vitalícias.