Magia, anzóis e DNA: o que médico da floresta que desvendou mistério no fundo do rio Amazonas pode ensinar à ciência
Completo no link https://www.bbc.com/portuguese/geral-49455353 (Aqui apenas parcial)
Eram dez horas de uma noite de domingo em Santarém. Um médico admirava a lua cheia, refletida nas águas calmas do rio Tapajós, quando o telefone tocou.
“Doutor, aqui é o Augusto Sena, o Guto. Vamos ali em Oriximiná buscar uma paciente de dez anos de idade que sofreu um acidente? O avião está pronto e vou decolar em trinta minutos. O senhor pode dar essa ajuda?”
Guto era um piloto experiente e o médico tinha total confiança nele. Mas… como estaria a paciente? E o avião, estaria autorizado a voar à noite? Seria adequado para o transporte médico?
Inútil ponderar sobre isso. Ele sabia que o velho Guto iria buscar a criança a qualquer custo, com ou sem sua ajuda.
“Tudo bem, Augusto, vamos lá.”
A história acima, verídica, é contada no livro Paradô: Histórias Vividas por um Neurocirurgião da Amazônia , escrito por Erik Jennings Simões – o médico que atende ao telefonema do piloto Guto.
Publicado em tiragem modesta (1 mil exemplares), aguardando segunda edição, o livro reúne casos vividos pelo médico ou relatados a ele, além de reflexões pessoais sobre a medicina e a vida na Amazônia. O efeito geral é de uma porta se abrindo para um mundo de riqueza e diversidade, praticamente desconhecido pela maioria dos brasileiros.
Erik, de 50 anos, é um entre cinco neurocirurgiões atendendo mais de 1 milhão de pessoas distribuídas por uma área superior a 500 mil quilômetros quadrados. Nessa região, caberia um país como a Espanha.
Na reportagem a seguir, o médico comenta algumas das crônicas do livro e compartilha com a BBC News Brasil soluções que encontrou para o desafio de cuidar da saúde do povo do Baixo Amazonas. Entre elas, aprender a falar tupi guarani e adaptar anzóis para uso como instrumento cirúrgico.
E, se você ficar conosco até o final da reportagem, vai saber como foi que, com a ajuda dos povos da floresta, Erik Jennings literalmente pescou das águas do rio seu próprio tio.
Saúde na Amazônia: o neurocirurgião que ficou em Santarém
O sobrenome de Erik Jennings vem de seus antepassados, americanos confederados (escravocratas sulistas) derrotados na Guerra Civil dos EUA que se refugiaram em Santarém em 1867.
Ele conta que a família era humilde, de pai eletricista e mãe costureira.
“Nasci na beira do rio (Tapajós), vivia contemplando o rio, observando a vida que ele gerava, a conexão com os ribeirinhos, os pescadores”, diz.
“Cresci vendo a natureza ameaçada por interesses econômicos, via que o rio poderia mudar, ser agredido. Sentia paixão pelo rio e por seus povos.”
Quando jovem, Erik estudou Medicina na Universidade Federal do Pará e fez especialização em neurocirurgia no hospital Santa Marcelina, em São Paulo. Fez estágio em cirurgia de coluna na Suíça e, recentemente, foi médico visitante na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos. Mas desde 1999 exerce a profissão em Santarém, profundamente integrado na vida da comunidade.
“Sabe doutor, eu estou tão feliz agora, cuidando de suas mãos, porque foram as mesmas mãos que cuidaram de mim e salvaram a minha vida cinco anos atrás.”
Continua …
Completo no link https://www.bbc.com/portuguese/geral-49455353 (Aqui apenas parcial)