O mais importante é saber quando não operar – Rotina Neurocirurgião em São Paulo

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Recebo muito feedback aqui no blog dos textos que escrevo sobre a minha rotina e maiores questionamentos que tenho no meu dia-dia. Por isso, tentarei escrever semanalmente aqui. Serão textos simples com reflexões e sem muitas respostas. Hoje será sobre decisão cirúrgica! Quando não operar ?

Na minha prática médica, o fator mais importante tem sido a decisão cirúrgica. Por mais que a sociedade e nos congressos se debata muito sobre técnica cirúrgica … o mais difícil, para mim, continua sendo a decisão: quando operar ou não operar.

Os consensos nos ajudam e devem ser nossos guias nas decisões mas percebo que existe um grande gap quando temos um caso específico. A autonomia do paciente é influenciada pelo nosso tom de voz e as palavras que usamos ao explicar um procedimento cirúrgico.

Na minha prática médica lidando com doenças, muitas sem cura, continuo achando o mais relevante o aspecto da decisão. Por incrível, que possa parecer para o leigo… muitos dos procedimentos que fazemos de rotina não são tão complexos (para quem tem um bom treinamento técnico) mas a decisão de fazê-los quase sempre é não simples.

A literatura científica é cheia de lacunas quando falamos de procedimentos cirúrgicos em pacientes oncológicos. A maior dificuldade é a balança entre o prognóstico, condições clínicas e o tempo de recuperação pós-operatória. Na maioria das vezes, avaliamos os pacientes com tumores metastático ( câncer avançado) e em muitos casos a cirurgia atrasará seu tratamento sistêmico. A dúvida diária é selecionar quais pacientes a cirurgia melhorará a qualidade de vida e quais representará um piora ou atraso no tratamento da doença sistêmica.

Frequentemente, não temos respostas baseada em evidência para condução clínica de um caso mas nessas horas um equipe multidisciplinar ajuda na decisão. Na minha experiência, o grande diferencial na medicina moderna tem sido as equipes. A decisão passou a ser compartilhada pelas especialidades e com a participação ativa do paciente. Precisamos cada vez mais expor nossas dúvidas e limitações. Muitas vezes, a resposta para pergunta: Esse paciente precisa ser operado? Será um simples .. não sei .. vamos decidir juntos.

Julio Pereira

Neurocirurgião