Por que buscar um fellowship ?
Autor: Dr. Ricardo Marques Lopes De Araújo
As lesões que acometem a base do crânio apresentam-se como um desafio único aos neurocirurgiões.
O desenvolvimento de um senso de relações anatômicas entre as estruturas neurais e vasculares envoltas por osso é e requer prática. É necessário um treinamento especial para realizar essas cirurgias delicadas nos pequenos recessos do cérebro, uma vez que requerem destreza com os instrumentais cirúrgicos, especialmente aqueles de remoção óssea realizados através de corredores restritos que contêm estruturas vitais.
Acredito que um laboratório de dissecção com cadáver é o ambiente ideal para residentes de Neurocirurgia e neurocirurgiões vivenciarem este desafio e aprimorarem a técnica cirúrgica.
O fellowship (research fellowship), em breve síntese, consiste em atividades em laboratório direcionadas para o desenvolvimento de habilidades especificas. A sua duração pode ser de poucos meses ou prolongar-se por vários anos, a depender do serviço e da subárea escolhida. O processo seletivo, em regra, prioriza aqueles que demonstram fluência no idioma exigido, após entrevista com o Diretor do Laboratório, via Skype, e, por conseguinte, aqueles que tem interesse na pesquisa e publicação de artigos.
Recomenda-se que se aplique com alguns meses de antecedência, antecipando-se às exigências e peculiaridades dos serviços, pois, geralmente as vagas são extremamente limitadas e procuradas. Não há nenhuma espécie de remuneração para o fellow, porém não requer nenhuma contrapartida do fellow. O volume de atividades desenvolvidas durante o seu fellowship está atrelado basicamente à sua disponibilidade, uma vez que o laboratório fornece todo o material necessário e são acessíveis durante toda a semana em tempo integral através de portas eletrônicas.
As oportunidades de um fellowship não estão limitadas ao laboratório. É permitido assistir cirurgias no centro cirúrgico, participar dos grand rounds (visitas clínicas) e também das conferências. No entanto, uma vez que não é necessário o USMLE para ser research fellow, não se permite o contato direto com pacientes ou seus prontuários.
Na Weill Cornell Medical College, que é uma das instituições mais prestigiadas do EUA (Ivy League), localizada na cidade de New York, tive a oportunidade de conhecer Neurocirurgiões de todos os continentes e de vivenciar as peculiaridades da formação Neurocirúrgica de cada um. Não existe clima de competição ou de “pré-conceito”. Todos trabalham em prol de um conhecimento único, buscando o entendimento da Neurocirurgia em um estado-de-arte, por meio do compartilhamento de diferentes técnicas e preocupações.
Percebe-se, pois, que são afortunados aqueles que tem essa oportunidade de experiência e convivência fora do país, ainda que por um curto período, a exemplo dos cursos hands on no exterior, que funcionam, em verdade, como porta de entrada.
É neste cenário estimulante de aprendizado e intercâmbio de informações que recebemos a honra de organizar o I Curso de Acesso à Base do Crânio da WCMC, ocasião em que os participantes poderão ter acesso a estações com microscópios cirúrgicos 3D – ZEISS, monitores 3D, drill e material cirúrgico de excelente qualidade e espécimes preparadas para simular um procedimento cirúrgico usual.
Será um prazer vê-los em nosso curso em New York.
Dr. Ricardo Marques Lopes De Araújo
Pós-Graduação - Universidade Federal do Rio Grande do Sul Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Research Fellow - Weill Cornell Medical College/New York Presbyterian Hospital
Former Cerebrovascular Fellow - University of Helsinki - Prof. Hernesniemi
ricardolopes@ufrgs.br