O Neurocirurgião robô

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O Neurocirurgião robô

Ontem tive o prazer de participar de um painel  no I Workshop de Saúde Digital na Associação Paulista de Medicina organizado por Dr. Antonio Carlos Endrigo. É raro participar ou falar em evento que não seja de neurocirurgia. Aceitei o convite mas fiquei um pouco ansioso para saber como seria o evento.

Eu sempre fui aficcionado por tecnologia e sempre aderi as tecnologias que se mostravam inovadoras e seguras na minha prática médica. Lembro no inicio da minha formação como neurocirurgião que era comum ouvir que Neurocirurgião que usava neuronavegador* desconhecia anatomia ( *Neuronavegador é um equipamento que usa as imagens de ressonância e te ajuda a localizar a lesão na hora da cirurgia, funcionando quase como um GPS).  Outros reclamavam do custo do uso desse aparelho. E ainda tinha os que não usavam porque era difícil conseguir a autorização… Esse é apenas um dos exemplos das tecnologias que vi crescer e se popularizar durante minha formação.

Dentro desse mundo de inovações tecnológicas também vi muitas “novidades” que na verdade aumentavam muito o custo e depois se mostraram pouco efetivas. Percebi cedo que essa balança entre inovação real e custo sempre será difícil de alcançar.

Ontem no evento da APM, tive a certeza que nem nos damos mais conta das várias inovações que ja existem e vão revolucionar a medicina em pouco tempo. A inteligência artificial não é mais ficção. Percebi que os prontuários eletrônicos utilizados por mim já capazes de conferir o tempo todo se a combinação de medicações que prescrevo tem algum risco para o paciente. A radiocirurgia que faço, já tem um componente importante de inteligência artificial que me ajuda a proteger os locais que não podem receber radiação.

Outras inovações conheci lá no evento e ainda não podem ser utilizadas pelo usuário final (médico) mas estão em fase de teste bem avançadas. Hoje ja temos carros que podem deslocar as pessoas (sem motorista); não demorará muitos anos para os robôs estarem ajudando nas cirurgias quase que forma autônoma também.

Dentro desse debate existem muitas áreas de incertezas: no aspecto jurídico/legal e no aspecto da privacidade das informações. A inteligência artificial ja ajuda na prescrição de uma medicação, mas poderá ajudar aos governos dando informação de saúde da população? Um convênio de saúde pode ter acesso ao estado de saúde dos seus conveniados para otimizar atenção ? E se o paciente mudar de convênio ou cidade, seus dados poderão ser enviados? Como esses órgãos farão uso dessa informação? Os hackers ja podem invadir aparelhos médicos implantados em pacientes, mas quem será responsabilizado por isso?

Saí do evento com mais dúvidas do que quando entrei. Esse é o problema que ocorre quando você vai para eventos de qualidade. Os debatedores são as pessoas que estão propondo as inovações e tem mais dúvidas que certezas sobre o impacto da inovação na sociedade. Acho que a única certeza é que em algumas décadas terei colegas robôs e precisarei melhorar meus conhecimentos em informática para trabalharmos juntos.

Júlio Pereira

Neurocirurgião

Assista parte do evento no site da APM: CLICK AQUI