Residência Médica nos EUA

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Última atualização do texto: 15 de fevereiro de 2018

Esse post é uma continuação de 2 posts anteriores:
A validação de diploma nos EUA (os Steps do USMLE):

O USMLE e seus STEP’S – A licença médica americana. ( Dr. Felipe Batalini)

Como prestar residência nos EUA (o Match):
https://neurocirurgiabr.com/2016/06/28/match-residencia-medica-nos-eua/

Vamos lá…

A residência nos EUA

Em 2015 eu fiquei muito feliz com meu resultado no Match, quando consegui match na minha primeira opção dentre as entrevistas que me foram oferecidas: Internal Medicine na Boston University, também conhecido por BMC (Boston Medical Center). Acabei começando a residência 2 meses atrasado por causa da demora pra sair minha licença em Massachussets, mas no final deu tudo certo e o programa teve paciência e apoiou muito durante a espera.

Baseado em muitas perguntas que recebo, vou tentar clarificar alguns pontos. Apesar de ter entrevistado e conhecido vários hospitais, minha experiencia baseia-se principalmente na Boston University, onde treino.

Qualidade do treinamento: penso que no Brasil há programas tão bons quanto nos EUA no que se refere ao treinamento clínico. No entanto, em vários aspectos, vejo os programas americanos melhores. Primeiramente, as oportunidades de pesquisa são incomparáveis, o que não se restringe aos principais programas das principais universidades, mas inclui também programas comunitários (não universitários e menos concorridos) que tem afiliações com universidades e portanto, oferecem oportunidades de pesquisa. Além disso, os programas aqui tem mais didática incluída na correria do hospital, contando com horários protegidos ao estudo. Um exemplo é pratica de quase todos os programas ter palestras diárias no horário do almoço (meio dia ate 1 da tarde), fora os “morning reports” que também costumam ser diários.

Electives: gosto muito da flexibilidade do residente montar seu currículo/residência de acordo com seus interesses. Existe um currículo base com rotações mandatórias, mas há sempre meses de eletivas, nos quais podemos escolher o que queremos fazer, exemplo de opções seriam pesquisa, oftalmo, radioterapia, bio-informática, comunicação social, etc.

Na BU, temos diferentes pathways pelos quais podemos seguir durante a residência de clinica médica, incluindo Global health (https://www.bumc.bu.edu/im-residency/training/global-health-pathway/), ou ainda Educação Médica, no qual é dada ênfase no desenvolvimento de habilidades em ensinar e são aumentadas as oportunidades de ministrar aulas e discussões de artigos.

Fundo educacional: temos um estipendio de 1000 dólares por ano para gastarmos com atividades educacionais, incluindo viagens e taxas de congressos, assinatura de revistas, ou mesmo laptop.

Férias: férias aqui costumam variar entre 3-4 semanas por ano.

Mentoria: na BU temos um advisor e um mentor, o primeiro é indicado pelo programa pra monitorar, avaliar e orientar o residente ao longo dos semestres durante todos os 3 anos de clínica; o mentor é escolhido pelo residente para orienta-lo em desde aspectos da vida pessoal a profissional incluindo pesquisa até colocação profissional.

Salário: nos EUA, todos os residentes são pagos para treinar, os salários variam bastante, de forma geral, de acordo com o custo de vida de cada região, de forma que muitas vezes o menor salário pode significar mais dinheiro no bolso se a região for barata. Na BU por exemplo, o salario do PGY-1 (R1) gira em torno de 60 mil dolares por ano (nos EUA em geral varia entre 50-62 eu acho). O salário sobe a cada ano de residência, aproximadamente 2-3 mil dólares de aumento no salário anual.

Mudança pros EUA: foi interessante, além das dificuldades naturais de mudar para uma cidade nova, existem as barreiras devidas ao fato de ser estrangeiro, por exemplo, nova carteira de motorista, ausência de histórico de crédito  e tornando tudo mais difícil, incluindo encontrar moradia e limitando obtenção do primeiro cartão de crédito.

Adaptação: sem dúvidas, a adaptação a um programa americano é mais difícil que continuar o treinamento no Brasil. Apesar de ter tido experiência prática na UCLA, tive bastantes dificuldades no começo aqui na BU: não sabia onde estava pisando, como deveria me comportar ou reagir, como melhor interagir com pacientes. Além disso, não compreendia as expectativas. Sentia-me muito intimidado inicialmente, notando que muitos dos meus colegas co-residentes vinham das melhores escolas medicas dos EUA, como Harvard, Yale, Hopkins, Stanford, etc. Foi uma batalha diária e melhora progressiva nos primeiros meses, e passei a realmente me sentir confortável depois dos 3-6 primeiros meses.

Futuro: começo Hematologia e Oncologia em Julho, no Beth Israel Deaconess Medical Center, um dos 3 principais hospitais de ensino da Harvard Medical School, o que me deixa muitíssimo feliz e grato por todas muitas pessoas que me ajudaram. Serão mais 3 anos de fellowship, além dos 3 anos de residência de clínica medica que estou terminando.

Opções de emprego: Pra poder trabalhar nos EUA, é necessário fazer residência médica. Caso eu não tivesse optado por especialidade, eu poderia atuar como Primary Care Doctor (clínico-geral com pratica baseado em consultório) ou hospitalist (clínico-geral com prática baseada em hospital, ou seja, não tem consultório). Depois da especialidade as opções são basicamente seguir pra prática privada ou na vida acadêmica.

Vistos e Green Card: Os vistos J1 e H1b foram discutidos em post anterior. De qualquer forma, acaba-se ganhando o green card (GC) após alguns anos aqui nos EUA, caso faça a residência no visto J-1, tem que fazer o waiver por 3 anos (trabalhar em area mal servida de médico – que pode ser inclusive em grandes centros) antes de obter o green card, normalmente patrocinado pelo empregador. Caso faça a residência no visto H1b, ganha-se o GC depois de 5 anos totais nos EUA. Há outras maneiras e outros detalhes específicos de pessoas que conseguem o GC durante a residência através de pesquisa, pagam os próprios advogados, mas sugiro uma busca mais especifica na internet se interessar no assunto (procure por National Interest Waiver, EB1, EB2).

Mais informações: Existe muito recurso online, no google, muita gente que conseguiu o processo e também postou online como estudaram, etc. Aqueles que desejam seguir adiante, surgiro que usem essas ferramentas online, usem o facebook pra discutir com outras pessoas que estão prestando. E finalmente, leiam o USMLE bulletin of information em http://www.usmle.org/pdfs/bulletin/2018bulletin.pdf

Bons estudos e sucesso!

Felipe