Um Belo Domingo no Hospital (Julio Pereira)

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Um Belo Domingo no Hospital (Julio Pereira)

Nunca acho interessante trabalhar no domingo. Domingo sempre foi o dia de ir para igreja e depois descansar. Quando passei a ser médico, o domingo mudou um pouco. Domingo passou a ser um dia de trabalho.

Hoje acordei mais cedo para ver os pacientes e depois tentar aproveitar o domingo. Como de costume, vejo a lista de paciente para ver e anoto as pendências para ser vistas no hospital.

A lista é simples, tem o nome, idade, o leito e a doença. A seguir uma ou duas frases sobre as pendências.

Hoje, ao ler a lista me senti um pouco diferente. Algumas vezes, isso acontece. Às vezes, um dia de rotina se faz diferente.

A lista era composta de pessoas com tumores cerebrais, AVCi extenso, Traumatismo Craniano e Metástase na coluna. No total veria 10 pessoas. Essas dez pessoas passariam o domingo no hospital.

Sai para vê-los. Às vezes é triste ver pessoas doentes. A tristeza não interfere no meu trabalho. Apesar de ser bem humorado no trabalho, sempre achei adoecer algo extremamente triste.

Fui vendo um a um. A lista de poucas linhas, com nome e doenças foram se preenchendo de informações que não cabem em papéis.

Um paciente com metástase cerebral que esperava o resultado da tomografia de controle para alta hospitalar se transformou num avô com 4 netos que torciam pela alta ainda hoje. A parede do quarto estava enfeitada de desenhos e fotos. Ao entrar no quarto já recebi um abraço e um chocolate.

E assim continuou meu domingo. Tive um belo dia de domingo no hospital. Não terminei no tempo que esperava mas vi muitas pessoas que eram amadas.

Atender pessoas no hospital sempre me faz resignificar a vida. Não tem momento ideal para adoecer. Sempre a doença nos tira do eixo e dos nossos planos. Mas adoecer nos faz perceber o que é realmente importante.